7 de maio de 2017
Medellín: a cidade da eterna primavera

Medellín é a capital e maior cidade do departamento de Antioquia, na Colômbia, apesar de não parecer, já que você se move de forma muito rápida e fácil por lá. Ela faz parte ainda de uma sub-região metropolitana ao sul chamada Valle de Aburrá, que é cortada pelo Río Medellín e localizada sobre a Cordilheira Central dos Andes, com paisagens muito características pelas montanhas que isolam praticamente toda a área urbana – um grande charme para mim.
É a terra de Fernando Botero, grande artista que deu nome à uma
das principais praças da cidade, de Maluma e Juanes, nomes conhecidos
mundialmente pela música, e de uma transformação incrível, que teve estrutura
para mudar o caos da violência das últimas décadas, muitas vezes remetida ao
tráfico de drogas, e torná-la um lugar relativamente seguro, cheio de áreas de convivência legais.

Apesar disso tudo, até a AIESEC aparecer na minha vida, eu sinceramente nunca tinha ouvido falar da cidade. A possibilidade de ir para lá surgiu numa feira de culturas chamada Global Village, onde algumas pessoas que já haviam viajado pela organização contaram suas experiências para o público.
Só depois que eu passei em várias mesinhas – e pulei a Colômbia, para
vocês verem meu nível de interesse no país – e estava indo embora com os meus
pais, uma menina de aparência simpática nos parou para vender um bloquinho de
anotações e aproveitou para perguntar se tínhamos interesse em escutar a
história dela. Naquele momento, ela resumiu o que fez em uns dois minutos, mas
aquilo ficou na minha cabeça por um tempão, registrando coisas como sua
timidez, a boa estrutura da cidade, a quebra do estereótipo das drogas na Colômbia
e as viagens que ela fez.

Quando eu decidi participar do intercâmbio, eu tinha o mundo ao meu alcance. Podia ir para qualquer país, considerando os projetos que eles ofereciam, mas eu estava pendendo mais para o lado do turismo, o que não parecia ser boa coisa. Pelo menos não quando você só está pensando nisso. Acho que conversar com aquela menina me deixou com a mente muito mais receptiva ao desconhecido e eu comecei a pesquisar sobre a Colômbia, algo que eu não tinha sequer considerado.
Eu senti, a partir daí, que era para lá que eu deveria ir e tendo
firmado isso na minha mente, eu não tive dúvidas quanto à cidade: tinha que ser
Medellín. Não só pelo o que eu escutei brevemente, mas tudo que eu buscava
apontava para lá. O natal e a feira de flores foram com certeza os eventos que
mais me animaram. Esta última dá o título a Medellín de cidade da eterna primavera e eu não conseguiria conhecer, porque ela
acontece no meio do ano e eu já estava decidida a passar as festas de fim de ano
fora de casa, mas me parecia apenas certo ir para uma cidade que
celebra tão apaixonadamente essas festas que eu passaria longe pela primeira
vez.
Cheguei lá acreditando que sabia tudo sobre a forma com que eles as comemoravam só por causa de umas pesquisas, mas nada me prepararia para o que eu vi. Há luzes por todas as partes, inclusive margeando um lago enorme ao norte da cidade,
pessoas que comemoram a chegada de dezembro, colecionam presépios e decorações
de natal. Nem sempre das mais bonitas, mas sempre adquiridas e expostas com muito entusiasmo. Também há religiosidade e respeito, independente do que
você crê ou não.

Medelín é toda montanhas e tijolos, algo que me pareceu estranho a princípio, mas todo aquele verde e marrom juntos se tornaram parte da minha ideia de lar, onde meu coração resolver pertencer por aquele curto período de tempo.
Uma das coisas que eu mais amava era olhar Medellín, seja à noite
ou pelo dia, e ver o movimento da cidade ou apenas suas luzes, das partes
baixas até as mais altas, dando a impressão que elas desapareceriam no céu. E
quando o sol resolvia aparecer entre o cinza que enfrentei a maior parte do
tempo, os prédios mais caros se confundiam com as casas da favela, nem que
fosse pela cor.
Medellín era só montanhas e tijolos. E era linda bem assim.
Medellín era só montanhas e tijolos. E era linda bem assim.

Não posso dizer que não existe uma segregação, algumas pessoas com quem conversei deixaram claro que muitos não viam sequer a necessidade de atravessar o Rio Medellín - que divide a cidade - se tudo que é necessário para eles está ali no seu bairro, ao seu alcance quando precisam. Mas tive a chance de andar por toda parte, falar com toda gente, e ao menos a cultura local não me pareceu tão dividida quanto eles mesmos julgam ser.
Todas as pessoas que eu conheci em Medellín – eu juro que não
consigo pensar em ninguém que me tratou diferente – foram extremamente amáveis
comigo, acolhedoras e dispostas a ajudar, mesmo que não soubessem como no
momento. Eu nunca senti tanta hospitalidade e eu não acho que esteja
exagerando, porque isso não é algo que eu diria de outras cidades da Colômbia,
por exemplo, mas lá eu me senti em casa. Os paisas, como são chamados aqueles que nascem em Antioquia, tem uma energia diferente.
Uma coisa que também me ajudou a construir essa ideia foi a rápida
adaptação que eu consegui alcançar. A cidade é tão bem estruturada e o sistema
de transporte é tão acessível e prático que, depois de um estranhamento inicial
nos dois primeiros dias, eu já estava andando sozinha com confiança. E há tantos
lugares para conhecer e visitar! É verdade que alguns dos meus preferidos,
infelizmente ou não, não foram nada turísticos e nem eu nem você poderíamos
voltar lá e sentir as mesmas coisas. Digo isso por causa das pessoas que me
acompanharam ou por se tratar de casas de colombianos que eu conheci, mas estes
guardarei na memória para toda a vida e não se enganem, ainda consigo pensar em
pelo menos uns dez parques para apresentar para vocês, além de museus, cafés,
restaurantes e vários outros pontos de encontro interessantes. Lá, você só não
sai de casa se não quiser mesmo.

Do meu ponto de vista outsider, tudo funciona muito bem. Me lembro de dizer isso e ver alguns locais estranharem, porque já estavam tão acostumados com aquilo, que não percebiam o quão privilegiados eram, mas depois eles acabavam concordando comigo.
Eles têm lazer, transporte público de qualidade, segurança, água
limpa para beber saindo de suas torneiras, escadas elétricas no meio do que já
foi sua favela mais perigosa, muita arte e mais investimentos por vir. Eu
sentia tudo fluir o tempo inteiro, tinha diversas opções ao meu alcance e um
custo de vida bem mais barato que no Brasil, além de afeto em todos os lugares
em que eu resolvia me acomodar.

Em meio a tantas surpresas boas, acho que a mais legal me chamou atenção de um jeito bizarro e engraçado por um tempo e tudo começou lá pela terceira semana enquanto eu caminhava com a minha família colombiana por um parque recém-inaugurado. Atinei para uma florzinha murcha meio esquecida no canto de um jardim e perguntei se aquela era mesmo a cidade da eterna primavera, lembrando do que tanto havia lido antes da viagem. Demos risadas e o tempo passou, eles não souberam se justificar. Apenas bem próximo à minha despedida, finalmente entendi o motivo de Medellín representar essa estação do ano mundo afora. É um segredo o qual talvez eles mesmos desconheçam: os paisas tem a beleza da primavera na sua alma e na sua cultura, o que é muito mais que só algumas paisagens coloridas com flores.
~ • ~
Tudo começou aqui, longe do mar ♪♡
Lis
+ Como funciona o intercâmbio social da AIESEC
+ Como foi a viagem?
+ Um pouco de brasilidade na Colômbia
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Escrito por: Unknown
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Que legal ler sobre sua experiência em Medellin! A Colômbia é um país tão lindo pelo que vejo e tenho muita vontade de conhecer, ainda bem que você decidiu ir pra lá e teve essa experiência que com certeza você vai levar pro resto da vida.
ResponderExcluirÉ incrível como Medellin mudou pra melhor durante esses anos todos, quero muito ver tudo isso com meus próprios olhos também.
Beijos! :)
Obrigada, Taís! ♡ Foi uma decisão muito certa mesmo, me senti muito feliz. Espero mostrar mais lugares legais pra você conhecer enquanto não viaja de verdade. Vai valer a pena quando o momento chegar ♡
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