4 de dezembro de 2017
O amor segundo Buenos Aires

Uma leitura sincera, bonita e sutilmente crítica fez a minha felicidade nos últimos dias. Nunca mais tinha falado de livros por aqui, mas a vontade de recomendar o amor segundo buenos aires me trouxe até esse post. Parece que andei pelas ruas de san telmo, vivi os dilemas dos personagens e me apaixonei por eles, tudo de uma só vez. Eles têm personalidades reais e a escrita do autor brasileiro traz uma verdade crua que me agradou bastante. Um dos aspectos que mais me encantou foi a forma com que os personagens conseguem ser fiéis a eles mesmos e ao que acreditam, apesar de suas reservas e inseguranças, algo raro nos dias de hoje, se você parar para analisar, mas que não deveria ser.
O livro aborda questões relativas
ao amor, como o título bem sugere, mas vai além do esperado. É fiel a esse sentimento complexo, que pode
envolver tantos aspectos das nossas vidas, e abandona a tendência de escrever apenas sobre o amor que se sente por um companheiro ou paixão casual. O autor enxerga o poder do
amor que se pode sentir por um amigo, por algum familiar, por alguém
completamente aleatório que acabamos de conhecer, por si próprio ou, até mesmo, por
um lugar, porque esse sentimento não é escravo do tempo, do sangue, nem de qualquer outra coisa.

Para retratar isso, ele brinca com
as perspectivas de todos os envolvidos na história, inclusive da cidade, de
modo que a cada capítulo conhecemos alguém mais a fundo, sob o olhar de outra
pessoa. Parece algo tão despretensioso, simples até, mas essa percepção faz
toda diferença no livro, porque a forma com que uma pessoa percebe outra na
vida dela é única, nunca vai ser igual a de mais ninguém, seja pelo nível de
convivência, de entendimento ou de identificação entre elas.
Em alguns momentos, era emocionante, bonito mesmo, conhecer versões diferenciadas dos personagens que já conhecíamos superficialmente, porque, vocês sabem, às vezes, nossas melhores versões podem não ser nossas, podem estar nos olhos do melhor amigo, do irmão, dos pais ou do companheiro, de alguém que nos enxerga de uma forma que não conseguimos sozinhos.
Em alguns momentos, era emocionante, bonito mesmo, conhecer versões diferenciadas dos personagens que já conhecíamos superficialmente, porque, vocês sabem, às vezes, nossas melhores versões podem não ser nossas, podem estar nos olhos do melhor amigo, do irmão, dos pais ou do companheiro, de alguém que nos enxerga de uma forma que não conseguimos sozinhos.

O autor nos faz viajar dentro desse conceito e através dessa
construção, capítulo a capítulo, refletimos sobre todas as formas de amor, de modo que não temos figurantes ou papéis secundários. Mas se eu precisasse eleger
alguma protagonista para essa história, eu diria que esta seria a cidade.
Buenos Aires. Ela faz parte da formação ou do rompimento de cada relação
exposta no livro, como se influenciasse de alguma forma para o crescimento
pessoal de cada personagem, e isso foi algo muito legal de acompanhar. Nós temos a chance de
viajar por suas ruas de uma forma pouco convencional e conhecer lugares que passam
longe dos pontos turísticos, mas que são ainda mais interessantes, porque neles
sim moram as descobertas e a costumes de quem vive por ali.
No começo de cada capítulo, o autor nos premia com um lugar relevante para a história que irá se desenrolar e nos situa no contexto dos personagens, o que ajuda muito na imersão dessa proposta. Alguns detalhes são obras da editora, mas esse cuidado visual em integrar o leitor à intenção do autor também faz a diferença.
No começo de cada capítulo, o autor nos premia com um lugar relevante para a história que irá se desenrolar e nos situa no contexto dos personagens, o que ajuda muito na imersão dessa proposta. Alguns detalhes são obras da editora, mas esse cuidado visual em integrar o leitor à intenção do autor também faz a diferença.

Em relação aos personagens em si, apesar do que eu falei, alguns aparecem com mais frequência que outros, sendo Hugo aquele que parece unir todas as histórias. Ele dá início ao livro, narrando seu ponto de vista em relação a Leonor, que foi o motivo inicial para que ele saísse do Brasil e fosse até a Argentina, onde passou a morar. As coisas não andavam bem entre eles, mas a ideia que fica desse pontapé inicial é a de que nem todos os amores devem durar, ainda mais por comodismo, se não fazem bem algum para ambos. Em contrapartida, dele podem surgir outras relações incríveis, como a que Hugo criou com a cidade, com Eduardo, Carolina e Daniel.
A amizade de Hugo com Eduardo é uma das relações mais lindas e mais simples que já conheci na literatura, como se os dois tivessem liberdade, num entendimento silencioso, para estar na vida do outro em todos os sentidos e, inconscientemente, saber o que é melhor naquele momento, porque eles se conhecem bem assim. É até engraçado quando Hugo fala que seu pai sente ciúme de Eduardo no momento em que Hugo mais precisa de apoio, durante seu tratamento para o câncer, mas eu não duvido da verdade no seu argumento:
“A conexão entre dois completos estranhos pode ser mais forte do que a compartilhada por duas pessoas que sempre moraram na mesma casa. (...) A ligação entre dois melhores amigos é a mais pura que pode existir.”
“A conexão entre dois completos estranhos pode ser mais forte do que a compartilhada por duas pessoas que sempre moraram na mesma casa. (...) A ligação entre dois melhores amigos é a mais pura que pode existir.”

Eduardo é homossexual, o que poderia nos levar a pensar que a amizade deles os faria confundir as coisas, mas a relação deles vai muito além desse tipo de paixão. Com quem Eduardo se conecta depois, muito por causa de Hugo, é Daniel, um homem introvertido que trabalha como garçom, mas determinado, com um sonho a alcançar. O capítulo em que Daniel fala de Eduardo é um dos mais bonitos do livro, pronto para desconstruir qualquer tipo de preconceito, especialmente no desfecho da história.

"Quando sinto esse compasso infinito de sentimento, de repente minha vida deixa de ser uma lista de tarefas a serem cumpridas para começar a fazer sentido."
Eu também adorei a Carolina, uma comissária de bordo louca para dar uma reviravolta na sua vida - com uma quedinha pelo Hugo na bagagem. Ela é alguém por quem torcer, tanto que quando ela consegue conhecer alguém especial, que dá o impulso que ela precisava para fazer o que queria, não tem como a gente não ficar feliz. A coragem dos personagens para fazer algumas mudanças drásticas, mas necessárias, são até inspiradoras de alguma forma.
Seu Pedro, pai do Hugo, fica responsável por nos apresentar um tipo de amor mais maduro, que ultrapassa qualquer estigma de idade, sem falar no carinho e respeito que sente pelo filho.

Na contracapa, o autor interage com os leitores, dizendo que se você já amou demais ou se acredita que todo amor vale a pena, então esse livro seria para você. Achei que não me encaixava em nenhum dos dois times, até que li o texto completo do qual esse trechinho faz parte, no prólogo, e antes mesmo de começar a leitura, eu soube que sim, esse livro era para mim. E é, provavelmente, para todas as outras pessoas no mundo, porque...
"A única razão para se desdenhar do amor é a ausência dele."

- 5/5 ♡
- autor: fernando scheller 🇧🇷
- editora intrínseca
- 288 páginas | skoob
- onde comprar: amazon (livro físico) | amazon (ebook) americanas cultura fnac
♡
Escrito por: Unknown
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